uma pena 🪶
Dia desses cheguei do trabalho e na minha fronha tinha uma peninha branca. Achei fofo, guardei. No dia seguinte chego para trabalhar e no alecrim que guarda a entrada do escritório tinha uma peninha.
Liguei para minha amiga perguntando o significado da pena branca. Ela, ligada nas coisas da terra e do ar, do humano e do etéreo, é sempre minha primeira fonte de conversas filosóficas ou astrais. Fosse 30 anos atrás estaríamos debruçadas em livros, Bíblia, enciclopédia.. mas rapidamente o Google já trouxe:
A pena branca é frequentemente associada à pureza, à paz e à proteção divina. Encontrar uma pena branca pode ser interpretado como um sinal de que Deus está presente e cuidando de você.
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Você sabia que frequentemente os anjos nos enviam estas penas brancas para mostrar que estão por perto? Esta é uma das formas que os anjos usam para se comunicar com a gente. Quando você acha uma pena branca solta em algum lugar significa que o seu anjo da guarda está por perto, é uma lembrança da presença dele.
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As pessoas que amamos e deixam este mundo não se separaram de nós. O amor deles é tão grande, eles sempre nos observam e eles estarão próximos, é por isso que eles frequentemente nos mostram ou nos enviam sinais.
Conversamos mais um pouco, falamos da vida, filhos, preocupações e de como estamos ficando velhas, nosso assunto de sempre. Antes de desligar ela disse para eu prestar atenção nos sinais, que a pena pode ser um chamado para algo esquecido dentro da mim, uma vocação ou vontade.
Alguns dias depois fui arrumar meu material de pintura, um pincel de aquarela estava na lata errada, coloquei na mesa do ateliê para depois guardar, fechei a porta e fui terminar um vasinho de papel machê. Escureceu, voltei para o ateliê, desenhei um pouco e quando ia saindo vi o pincel. Peguei para colocar no copinho e adivinha? Tava lá uma peninha.
Faz muito tempo que guardo penas espalhadas pela casa: dentro de cadernos, gavetas, até um filtro de sonhos eu fiz. Mas são penas diferentes, grandes, com desenhos… Nunca busquei um significado nelas.
Até que ao arrumar o armário do meu ateliê novo (sim, estou sempre arrumando e sempre no ateliê) eu abro uma caixinha… nela estava a pulseira da minha avó, guardada em um saquinho para não perder seu perfume. Adivinha o que tinha lá, em cima da pulseira? Yes Sherlock! Uma pena branca! Essa é maior, uns cinco cm e claro que eu devo ter gradado, apesar de não lembrar.
Não sei o que é ou quem é, mas desde então as peninhas não param de chegar. Estou guardando cada uma.
Mas que eu penso numa cena à lá “Interstellar”, ah isso eu penso!
um dia depois de outro dia
Da última vez que escrevi aqui eu já estava reflexiva, falando de perdas e de como nosso mundo pode virar de um dia para o outro. Eu passei o mês desenhando, a única coisa que me obriguei a fazer para trazer de volta a minha criatividade e a vontade de voltar a ilustrar. Funcionou. A inspiração veio e terminei de arrumar o ateliê. Fiz um abajur de leitura fofinho e reformei meu armário. Que alegria!
Mas no Estado dos meus guris veio a perda de verdade. Explico: os guris são os caçulas da família. Minha amada cunhada é do Rio Grande do Sul e meu irmão virou um gaúcho quase legítimo depois que a conheceu.
Na quinta-feira começaram as notícias de mais uma enchente. Nós que fomos criados em Teresópolis já estamos acostumados, perdi as contas de quantas vezes nossa casa inundou.
Mas os vídeos começaram a preocupar. No centro de Serafina a água já batia no joelho… A casa deles está seca. A cidade isolada. O resto do Estado não está tão bem. Vídeos de puro horror circulando pelas redes ao mesmo tempo que chegam vídeos da mais pura bondade altruísta. Gente se unindo para ajudar de todas as maneiras. Faz a gente ter fé na humanidade.
Nossa casa em Teresópolis não inunda mais. Levou mais de vinte anos, mas a prefeitura finalmente fez uma obra, simples até, que desviou a água que descia das ruas e entrava direto na nossa sala.
Porto Alegre enche sempre, cada vez mais. O que falta para nossos eleitos resolverem? Acho que a resposta virá dos eleitores, não através do voto, mas da iniciativa que estamos vendo diariamente na tela dos nossos celulares. Da mesma maneira que conseguiram jet-skis, internet, água e abrigo, creio que vamos ver gente boa se unindo buscando soluções. Enquanto políticos e intelectuais debatem e culpam a mudança climática vai ter gente se preocupando em como resolver. Se o clima não vai mudar a gente vai aprender a lidar com ele.
Eu tinha 10 anos quando o disco da Madonna chegou aqui
Lucky Star, Holliday, Borderline e Everybody. Eram os anos 80, a gente usava laço de filó na cabeça, meia soquete e roupa colorida. Quando fiz 13 anos mami me levou para Petrópolis e compramos um macacão amarelo ouro, era larguinho e eu usava com um top branco por baixo. Me sentia a Madonna!
Depois de Lucky Star veio Like a Virgin, com Material Girl, Love Don´t Live Here Anymore e Over and Over. Sucesso nas festinhas hi-fi. Em 1986 True Blue. Nesse tem Pappa Don´t Preach, uma música sobre uma gravidez indesejada e ela dizendo para o pai não dar sermão e que ia ficar com a criança. Madonna dividia o estrelato com Cindy Lauper, Paula Abdul e Whitney Huston.
Mas aí veio a grande sacada: Like a Prayer. Agora ela era desafiadora, cool, sexy. Tudo o que vende. Fez vídeo sadomasoquista, deu beijo na boca da Britney, gravou Erotica. Para mim foi o fim de Madonna, mas para ela foi o começo da celebridade.
E veio o show de sábado.
Enquanto a galera fica horrorizada com cenas de soft porn e Ches enaltecidos eu só fico triste. Não por ter perdido esse espetáculo. Sorte minha ter sido incluída fora dessa. Mas a tristeza é saber que com tanto público, tanta gente pronta para fazer o que a grande rainha do pop pedir, ela perdeu a chance de dar o troco no “we are the world” perdido e pedir uma ajuda para o Sul. Imagina a produção colocar a outra semi pelada (e Gaúcha) Luisa Sonza no palco trazendo holofotes para a calamidade. Mas, parece que ela nem tocou no assunto, diz que doou o cachê e o Itaú pagou a conta.
Uma pena.
Mês que vem vai ser melhor.
Um beijo para quem ler, aquele abraço para quem não.
arrepiada com a leveza e o significado das penas que aparecem pelo seu caminho!