Um dia aqui, neste escritório, neste mesmo calor, com a janela aberta e os pássaros lá fora cantando. Era um sábado, estava com tempo e ia fazer uma estampa que estava na minha cabeça faz tempo. Coloquei uma aula para tocar e fui abrir meu arquivo de desenhos. Não estava lá! Pensei ter deletado sem querer, abri a lixeira. Nada!
Nervosa, pensando no trabalho que ia ter para fazer tudo de novo, resolvi terminar outro desenho. Não estava lá! Todos as pastas sumiram! Calma, respira, vai dar certo…
Não deu. Meus trabalhos de 2019 até 2024 desapareceram em um clique. Primeiro eu tentei recuperar o Windows, o pc travava e nada. Depois tentei reinstalar, aí foi o tal clique estúpido que por pura ansiedade fez tudo sumir de vez.
Agora tenho um ícone com os arquivos apagados, mas não consigo acessar nenhum. Na nuvem alguns trabalhos salvos, de 2019 até 2021. Entrei em desespero, de chorar mesmo.
talvez o universo esteja me mandando mensagens
Foi o que pensei, era a voz do todo poderoso falando pra eu largar mão dessa de virar ilustradora. Desliguei o pc por semanas.
Semanas em que fiquei refletindo sobre tudo o que já perdi. Será que os amigos que perdi era um recado para eu não fazer amizades? E minha avó, será que era o universo dizendo que eu amo demais e devo parar com isso? E os anos de trabalho que foram postos abaixo em menos de dois anos que estive fora da minha empresa? Era para eu desistir ou arregaçar as mangas?
resolvi ouvir o universo que habita em minha mente
Me perguntei por que eu comecei a ilustrar? Descobri que amava ilustração e estampas quando comecei a fazer patchwork. Desde a pandemia o meu canto de costura estava na sala de tv. Uma sala escurinha, com parede verde floresta, cortina que tampa a luz… lá eu costurava pouco ou quase nada. não era o lugar ideal. Pronto, era hora de mudar! Voltei para o antigo ateliê, onde cabe tudo e a luz bate até chegar a noite. E ainda dobrei a aposta: comprei uma mesa de desenho para a criatividade rolar solta!
Faz umas duas semanas que estou lá e já fiz cortinas, vários blocos de um quilt que comecei no ano passado, criei outros novos (coisa que não fazia há anos) e ainda fiz duas peças de papel machê! Já que estou ali, bem ao lado da churrasqueira - meu ateliê molhado, onde faço pintura e escultura de papel 😋 (muito melhor que churrasco)
Afinal, voltei à estaca zero.
Arrumando meus tecidos meu coração palpitou de tristeza ao ver a última coleção que criei. Estava perfeita e já tinha até apresentado para um fabricante de tecidos, foi declinada porém elogiada. Eu já tinha outro em mente para mandar, agora foi-se. Chegando aos 50 eu entendo que os ganhos na vida são muito menores que as perdas. Acho que é para darmos o devido valor às vitórias e estarmos sempre atentos ao tanto que pode (e vai) dar errado. Somos forjados na derrota e quem aprende a levantar mais rápido leva vantagem.
Eu ainda estou levantando. Não sei quais arquivos sobreviveram, mas já sei que o livro que eu comecei em 2020 e estava trabalhando nele pelo menos a cada quinzena se foi 😿, muitos desenhos, ilustrações prontas e estampas também. Mas aos poucos vou recuperando, pelo menos a minha mania de desenhar tudo em papel, não jogar nada fora e ainda arquivar por assunto já ajuda. Um salve aos virginianos!
no fim das contas é isso
Perdas irreparáveis fazem parte da vida, eu perdi coisas, gente, sonhos, esperanças… e ganhei coisas, gente, sonhos e esperanças novas. E agora tudo o que ganho seguro firme, pois aprendi que num clique, numa palavra, um descuido, num sopro tudo pode ir embora.
Acabo por aqui meu texto, sem ilustração, sem foto, só com palavras mesmo.
Um beijo para quem ler, aquele abraço para quem não.